quarta-feira, 10 de agosto de 2011

cidades para pessoas


A sensação ao se andar pela cidade é a de que carros são mais importantes que pessoas. A foto acima mostra um pouco isso. O carro, está estacionado em frente a um banco...em cima da calçada sobre o piso átil para deficientes.
O carro pelo porte é de uma pessoa com recursos financeiros, provavelmante classe média alta, com altas possibilidades de acesso à informação, principalmente aquela que diz que é preciso dar prioridade para pessoas com deficiência, pedestres e etc..
Mas então porque mesmo sabendo disso ela deliberadamente estacionar o carro ali e impedir o trânsito dessas pessoas? porque o banco permite isso? ele não é responsável também?
Como quebrar essa cultura do descaso? Se a informação existe, porque o comportamento não muda?
Perguntas que devem ser respondidas por todos. O mercado ético começa a publicar uma série de textos do blog Projeto Cidade para pessoas.
Veja uma entrevista sobre o projeto, feito pelo portal ecodesenvolvimento.org





Cidades para pessoas: trânsito tem solução?

Natália Garcia estava cansada de pegar quatro horas de engarrafamento por dia, na cidade de São Paulo. Em busca de uma melhor condição de vida, ela decidiu percorrer essas distâncias de bicicleta e metrô, e encontrou mais do que procurava. Ao se mobilizar por um trânsito menos estressante e mais organizado, a jornalista entendeu que a melhor maneira de fazer com que as pessoas se envolvam é fazê-las também ocupar o espaço público, como pedestres.
A partir daí Natália começou a buscar informações para um trânsito mais saudável e entrevistou o urbanista dinamarquês Jan Gehl – responsável por trazer de volta à Copenhague o título de “cidade das bicicletas”. Gehl sugeriu que Natália conhecesse Curitiba, “o melhor exemplo brasileiro”, e assim, a jornalista passou um ano na cidade, produzindo matérias sobre mobilidade urbana e se preparando para uma viagem de um ano, por 12 cidades em diferentes países do mundo – todas com tráfegos terrestres relacionadas a projetos de Gehl.

Portal EcoDesenvolvimento.org – Você sempre teve um modo de vida mais sustentável ou a ideia de percorrer essas cidades surgiu de alguma demanda? De onde você tirou a ideia do projeto?
Natália Garcia – Não, eu nunca tive um modo de vida mais saudável (risos)… Aliás, bem ao contrário. Eu sempre fui sedentária, consumista, eu sou de família de classe média alta, então ganhei meu primeiro carro aos 19 anos e aos 24 eu já era a típica motorista paulistana estressada, tinha até problemas cardíacos de saúde. Daí comecei a flertar com a possibilidade de pedalar em vez de usar meu carro para me locomover. Em novembro de 2008 eu decidi comprar uma bicicleta dobrável (para poder utilizá-la em curtos deslocamentos ou levá-la dentro do metrô em deslocamentos maiores) e minha relação com minha cidade mudou. Antes eu me protegia dos espaços públicos em meu carro. De bike passei a OCUPÁ-LOS e esse foi o primeiro passo para começar a me interessar para o planejamento urbano e boas ideias para melhorar cidades. Fui levando minha vida profissional para esse caminho, comecei a trabalhar como freelancer escrevendo sobre esses assuntos e, há um ano, resolvi viajar de bicicleta pelo mundo em busca de boas ideias para inspirar cidades brasileiras.
Qual o seu objetivo com essa experiência? Qual contribuição para a sociedade brasileira você busca levar?
Em primeiro lugar a ideia é melhorar o repertório das pessoas nos debates sobre como melhorar nossas cidades. Se você perguntar a qualquer paulistano como ele quer melhorar a cidade dele, ele te responderá que quer mais ruas para poder dirigir seu carro sem pegar trânsito. Te digo: por tudo o que li, estudei e experienciei até agora, essa visão está errada. Uma cidade que se pauta pelo transporte particular está fadada ao trânsito e ao caos. Então o objetivo inicial era melhorar o repertório dos debates que se fazem em torno do assunto. Eu também queria trazer boas ideias que pudessem inspirar tanto políticos brasileiros quanto iniciativas de engajamento cívico.
A escolha de Jan Gehl como ponto de partida para as 12 cidades visitadas se deve a quê?
O Jan Gehl escreveu seu primeiro livro (Life Between Buildings, sem tradução para português) sobre a vida nas cidades e levantou uma questão que norteou sua carreira: conhecemos o habitat ideal das girafas, dos gurilas e chimpanzés. Mas o que sabemos sobre o lugar ideal para o homo sapiens viver? Infelizmente, muito pouco! E as pessoas que decidem como serão esses habitats do homo sapiens estão preocupadas em resolver o trânsito, fazer obras, deixar legados, crias skylines… nunca em criar cidades agradáveis para se viver. Ele criou esse conceito de “cidades para pessoas”, que me pareceu interessantíssimo de cara. Por isso resolvi nortear meu projeto pelo trabalho dele.
Como é o seu dia a dia nessas cidades? Como é a realização desse projeto na prática? Você segue algum roteiro de viagem?
Sim, há um roteiro de 12 cidades pré-definido que você pode ver no cidadesparapessoas.com.br. Eu geralmente entrevisto pessoas que estejam relacionadas ou a movimentos de engajamento cívico, ou a cargos de poder público ou da academia. São os três grandes centros onde busco fontes e boas ideias. Marco as entrevistas e uso minha bicicleta para percorrer a cidade, entender sua lógica, como funciona, como é sinalizada, como prioriza ciclistas ou pedestres ou carros e em que situações, etc.
Caminhar pelas cidades me faz perceber uma porção de coisas que também podem virar pautas. Por exemplo, em uma rua do subúrbio de Londres eu vi uma placa que dizia “kill your speed, not a child” (algo tipo “mate sua velocidade, não uma criança”, o que me parece uma mensagem bem radical, mas uma campanha seriamente comprometida com o bem estar das pessoas) e isso me fez ir atrás do departamento que cria essas campanhas. É assim…
O que mais te impressionou (no âmbito do planejamento urbano) nas cidades já visitadas?
Acho que foram os canais de Copenhague. Eram poluidíssimos, como na maioria das grandes cidades do mundo, mas um projeto de limpá-los que durou 20 anos foi tão bem sucedido que hoje as pessoas podem nadar nos canais de Copenhague. Há até piscinas públicas espalhadas pelos canais.
Também gostei muito da forma como Londres está tentando inserir bicicletas como meio de locomoção na cidade. Por aqui criaram as Barclays, bicicletas que podem ser alugadas em um ponto e devolvidas em outro (modelo semelhante aos de Paris, Lyon e Barcelona). A vantagem é que aqui não é preciso fazer nenhum tipo de inscrição no sistema, basta inserir seu cartão de crédito e começar a usar. E como a não devolução da bicicleta implica em cobrança no cartão, ninguém as depreda. Londres não tem muita infraestrutura para bicicletas, são poucas as ciclovias. Mas os ônibus respeitam MUITO os ciclistas que andam nas faixas e, com as barclays, tem cada vez mais gente pedalando nas ruas. Esse é o princípio da massa crítida: quanto mais gente pedalando, mais segura fica a via para os ciclistas.
O seu projeto só foi possível por ter sido financiado por pessoas comuns, através do site Catarse. Você pode explicar como esse modelo “crowdfunding” funciona?
Crowdfunding nada mais é do que uma vaquinha institucionalizada. Há sites especializados em crowdfunding no mundo todo (os americanos são os mais famosos, em especial o kickstarter, que já é super consolidado e apoiado por vários veículos jornalísticos importantes de lá) e, nesse ano, várias plataformas foram inauguradas no Brasil, como o Catarse.me, onde viabilizei o Cidades para Pessoas.
Funciona assim: você escreve seu projeto, diz quanto dinheiro precisa para viabilizá-lo e estabelece cotas que darão direito a recompensas  E daí quem quiser (pessoas, empresas, etc) compra uma dessas cotas e recebe a recompensa correspondente.
Imagino que a expectativa de conhecer uma nova cidade a cada mês te estimule muito a continuar o projeto. Há algum ponto negativo nessas viagens? Você já passou por frustrações?
Frustrações… Bom, acho que em Amsterdam me frustrei com o fato de os políticos serem muito menos acessíveis do que em Copenhague. Lá eu tentei, por exemplo, falar com departamentos da prefeitura responsáveis pela política de drogas e de legalização da prostituição, mas foi dificílimo e eu não consegui tudo o que queria (ainda estou entrevistando algumas pessoas por telefone). O lance é que em Copenhague a prefeitura funciona como uma grande empresa que quer resultados, é competitiva, tem metas claras e tem um belo departamento de marketing para divulgar suas conquistas. E eles são absolutamente transparentes porque essa grande empresa funciona. Mas isso é exceção no jeito de fazer política e tem a ver com um histórico bem diferente do nosso.
Mas frustraçõooooes frustraçõooooes acho que não (risos)…
Fonte Mercado ético

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